A aeronave HM-2 Black Hawk foi adquirida pelo Exército Brasileiro em 1997, com a finalidade de atender às necessidades da continuidade do apoio aéreo na solução do conflito entre Equador e Peru.
Equador e Peru possuíam questões fronteiriças mal resolvidas que antecediam suas respectivas formações como estados independentes. Em 1941, ocorreu um agravamento da situação. Na ocasião, o Peru invadiu o Equador, ocupando-lhe extensas faixas territoriais. Em 1942, para pôr fim à questão fronteiriça, o Brasil, a Argentina, o Chile e os Estados Unidos da América intermediaram a assinatura de um acordo de paz entre Equador e Peru. Esse acordo ficou conhecido como Protocolo do Rio de Janeiro, e os países que o intermediaram foram chamados de países garantes do Tratado.
O Protocolo do Rio de Janeiro previa que a fronteira entre Equador e Peru passaria pelo divisor de águas entre os rios Zamora e Santiago. Entretanto, durante a demarcação da fronteira, foi descoberto o rio Cenepa, entre o Zamora e o Santiago. A inexistência de um divisor de águas naquela região levou à nulidade do acordo e novos conflitos ocorreram.
No último conflito, os países garantes do Tratado, mais uma vez se prontificaram a cooperar para a pacificação da região, intermediando a assinatura de uma declaração de paz entre Equador e Peru e criando uma missão com o objetivo de auxiliar os contendores quanto à questão militar, a fim de estabelecer seus limites territoriais e a demarcação de fronteira. Essa missão ficou conhecida como Missão de Observadores Militares Equador-Peru (MOMEP).
A MOMEP iniciou suas atividades na região do conflito, em 12 de março de 1995. Era constituída por um coordenador-geral, função desempenhada por um general brasileiro, auxiliado por um estado-maior com integrantes de todos os países envolvidos, além de um grupo de observadores e um grupo de apoio, no qual se enquadrava o destacamento de aviação norte-americano.
Para que a nova aeronave fosse operada pelo Dst Av Ex, tripulações foram rapidamente enviadas ao exterior para treinamento. O recebimento das aeronaves ocorreu nos EUA, e o transporte delas foi realizado por meio de deslocamento em voo diretamente para a zona de operações no Equador. Depois, com o término da MOMEP, as aeronaves deslocaram-se do Equador até o Brasil.
O Dst Av Ex propiciou o apoio aéreo à MOMEP na região amazônica equatoriana e peruana, executando missões de rotação, de verificação e de patrulha. Nas missões de rotação, era realizada a troca de observadores militares; nas missões de verificação, eram realizadas a fiscalização e as contagens de efetivos militares, de armamentos e de munições; e nas missões de patrulha, era observada a existência de qualquer tipo de anormalidade. O Dst Av Ex executou ainda, atividades de logística, como o abastecimento de gêneros alimentícios nas diversas instalações militares; e operações aéreas de relevância, como a missão SAR noturna para resgate de militar atingido por mina terrestre, a remoção de uma aeronave brasileira acidentada na Cordilheira dos Andes equatoriana, e o resgate das vítimas do desabamento de uma ponte.
O Dst Av Ex integrou a MOMEP de novembro de 1997 até junho de 1999. Nesse período, realizou 395 patrulhas aéreas sobre a área desmilitarizada e mais 248 verificações aéreas. Os quatro helicópteros HM-2 Black Hawk voaram 3.858 horas (1).
Ao longo desses 25 anos de operação, a aeronave HM-2 Black Hawk tem potencializado as capacidades operacionais do 4° BAvEx, impactando positivamente a aeromobilidade da Força Terrestre e propiciando aumento do nosso poder de combate sobre a imensidão da Floresta Amazônica.
O Brasil, pela sua participação na MOMEP, além de ter contribuído com a consolidação da paz em nosso continente, aumentou sua projeção no cenário internacional. A participação também possibilitou ao Exército Brasileiro não somente a incorporação de experiência militar, mas também a aquisição de um novo tipo de aeronave, dotada de tecnologia OVN, agregando novas capacitações e habilidades para sua utilização.
Atualmente, todas as aeronaves do Exército Brasileiro são configuradas para realizarem voo com OVN, e a capacidade operativa noturna da Aviação do Exército, iniciada outrora com o emprego da aeronave HM-2 Black Hawk na MOMEP, está completamente consolidada.
(1) FIGUEIREDO, Cláudio Barbosa de. Certeza da Paz. Entrevista. Revista Verde-Oliva, Edição Especial. Brasília-DF, n° 166, p 20-23.
*Sobre o autor: STen Fábio César Santos de Assunção
Fábio César Santos de Assunção é subtenente do Exército Brasileiro, oriundo da turma de 1996, do Curso de Formação de Sargentos em Manutenção de Comunicações da Escola de Comunicações (EsCom). Possui o Curso de Aperfeiçoamento de Sargentos em Manutenção de Comunicações (EsCom,2007), o Curso Avançado de Comutação (EsCom,2009) e o Curso Básico de Manutenção de Aviação do Exército (CIAvEx,2013). É licenciado em Física pela Universidade Estadual Paulista (2002) e em História pela Universidade de Taubaté (2021). Foi monitor no Centro de Instrução de Aviação do Exército (2010-2012 e 2015-2017) e mecânico de voo da aeronave HA-1 (Esquilo). Atualmente, desempenha a função de historiador do Espaço Cultural da Aviação do Exército.
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