A retração registrada pela companhia ocorre em um cenário global favorável para a compra de itens de defesa. O professor de Relações Internacionais e Economia no Ibmec-SP, Alexandre Pires, cita o aumento dos orçamentos de guerra, em meio ao conflito na Ucrânia e à intensificação das manobras chinesas em Taiwan. Segundo o especialista, os membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) na Europa estão cumprindo as cotas de investimentos mínimos em defesa, o que vinha sendo cobrado pelo ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump.
Pires pondera, entretanto, que itens de defesa são estratégicos e extremamente regulados. “Os grandes contratantes desse segmento são os governos, que podem tomar decisões arbitrárias sobre de qual fornecedor comprar. A escolha tem a ver com geopolítica. Aliados dos Estados Unidos, por exemplo, vão comprar de empresas norte-americanas.”
Nichos
Pires observa que a Embraer tem atuado em nichos com excelência, como aeronaves de treinamento, por exemplo. “Os Super Tucanos têm um custo bastante competitivo”, diz. Por outro lado, em áreas com mais tecnologia embarcada, aponta, a concorrência é mais acirrada, como em cargueiros com função militar e civil.
O analista de transportes do Citi, Stephen Trent, avalia que a Embraer tem produtos de sucesso, como o KC-390 e o Super Tucano, mas o tamanho das oportunidades desse mercado é questionável. “O mercado global de defesa é razoável e a Embraer tem potencial. Mas não tenho tanta certeza sobre o quanto há de oportunidades à frente.”
A Embraer afirma que a atual conjuntura global continua a influenciar países ao redor do mundo a revisar seus planos e atualizar as capacidades das suas forças armadas, o que é favorável para o setor de defesa. “A Embraer está otimista com o atual momento da área de defesa e segurança, pois temos campanhas de vendas em andamento em diferentes continentes”, diz a empresa.
A companhia não detalha a carteira de clientes, mas, além das vendas do KC-390 para a FAB, ressalta os contratos com Portugal (cinco aeronaves) e Hungria (duas unidades). “Além disso, o avião também foi selecionado pela Força Aérea da Holanda, que pretende adquirir cinco aeronaves C-390 para substituir a atual frota de C-130 Hercules daquele país”, informa a Embraer.
O analista do Citi ressalta que a competição é massiva. “Esse mercado tem potencial, mas não me parece que há oportunidades robustas, são menores hoje do que há 10 ou 15 anos”, diz.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo
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