No próximo mês de setembro, a indústria de construção naval de Santa Catarina inaugura na prática uma nova e aguardada fase. Dois anos e meio após assinar um contrato de US$ 1,6 bilhão (quase R$ 9 bilhões) com a Emgepron, empresa pública que atua na gerência de projetos da Marinha do Brasil, o Consórcio Águas Azuis vai começar a construir em Itajaí a primeira de quatro fragatas classe Tamandaré. As informações são da Fiesc.
A produção das embarcações promete revolucionar não apenas o poderio militar brasileiro no Oceano Atlântico, mas todo o cluster naval dos arredores da foz do Rio Itajaí-Açu.
A última fragata será entregue em 2029, mas desdobramentos do projeto devem continuar a movimentar a região ao longo de todo o ciclo de vida traçado para as embarcações, entre 35 e 40 anos – sem contar os planos de vender projetos similares para outros países da América do Sul. Além da gigante alemã thyssenkrupp Marine Systems, o Consórcio Águas Azuis conta com a participação da Embraer e sua subsidiária Atech. A base do projeto será o thyssenkrupp Estaleiro Brasil Sul (tkEBS), como foi rebatizado o estaleiro Oceana, adquirido em Itajaí pela empresa alemã em 2020.
Antes mesmo de começar a construir, o Águas Azuis já se tornou o segundo maior arrecadador de ISS de Itajaí, atrás de uma importadora e à frente da APM Terminals, principal arrendatária do Porto de Itajaí. Com 310 mil metros quadrados de área, o tkEBS passa atualmente por uma fase de setup, com revisão e adequação de sistemas e equipamentos, qualificação de processos produtivos e a construção, a partir de março, de uma unidade piloto estrutural dos navios (mock up), que deve servir para validar procedimentos e processos fabris das quatro fragatas da Marinha.
A produção será feita com pelo menos 30% de conteúdo local na primeira unidade e 40% a partir da segunda, proporcionando uma gradual transferência de tecnologia em engenharia naval para a fabricação de navios militares e sistemas de gerenciamento de combate e de plataforma em solo brasileiro. As fragatas serão baseadas no projeto alemão MEKO, já utilizado em 82 embarcações em operação em marinhas de 15 países.
“Tão importante quanto o movimento econômico do projeto é que ele traz tecnologias que colocam Santa Catarina no estado da arte do setor”, diz Mario Cezar de Aguiar, presidente da Federação das Indústrias (FIESC), que trabalha para a aproximação da indústria do Estado com as Forças Armadas (leia o box). A percepção é compartilhada pelas empresas do setor naval. “O projeto vai trazer emprego, renda, conhecimento e novas empresas, fomentando a criação de um cluster tecnológico naval”, afirma Leonardo Campos Freitas, assessor executivo do Sindicato das Indústrias da Construção Naval de Itajaí e Navegantes (Sinconavin).
Dois mil empregos diretos e 6 mil indiretos devem ser gerados no auge da produção das fragatas. Somado ao estoque atual de vagas dos outros estaleiros da região, o projeto deve ajudar a ultrapassar o recorde de empregos do auge do ciclo de óleo e gás, quando mais de 10 mil pessoas trabalhavam no setor.
Ocupando ambas as margens das últimas curvas do Rio Itajaí-Açu, a indústria naval de Itajaí e Navegantes viveu anos prósperos com a intensificação da exploração das jazidas do Pré-Sal na costa brasileira a partir do começo dos anos 2000. Naquele período, mais de 85% da produção brasileira de petróleo e gás já ocorria no mar, e eram investidos bilhões de reais em obras de ampliação e modernização da capacidade produtiva e construção de novos estaleiros em todo o País, atraindo investidores internacionais.
FONTE: Portal BIDS
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